As gigantescas estátuas da Ilha de Páscoa, conhecidas como moai, sempre intrigaram arqueólogos e curiosos do mundo inteiro. Com toneladas de peso e formatos imponentes, ninguém sabia ao certo como os antigos habitantes da ilha, o povo Rapa Nui, conseguiam transportar essas estruturas por longas distâncias até seus locais cerimoniais. Agora, uma pesquisa traz uma explicação que envolve física, engenharia inteligente e um experimento prático surpreendente.
Os antropólogos Carl Lipo e Terry Hunt analisaram 962 estátuas e criaram modelos 3D detalhados para entender melhor sua forma e estrutura. A partir dessas informações, elaboraram um teste no próprio local para comprovar uma hipótese: que os moai poderiam ter sido transportados em posição vertical, “andando” pelo terreno.
A teoria do “moai caminhante”
Segundo o estudo publicado no Journal of Archaeological Science, o segredo estaria no formato da base das estátuas. Muitas têm uma base larga em forma de D e uma leve inclinação para frente, o que favoreceria um movimento de balanço controlado. Ao amarrar cordas em pontos estratégicos e puxar em sincronia, um grupo de 18 pessoas conseguiu fazer uma réplica de moai de 4,35 toneladas percorrer 100 metros em apenas 40 minutos.
Durante o experimento, a estátua foi balançando de um lado para o outro, em zigue-zague, com precisão suficiente para manter-se em pé e avançar. Para os pesquisadores, esse método invalida teorias anteriores que sugeriam o uso de trenós de madeira ou rolos. Também contraria ideias populares que atribuíam o transporte a civilizações extraterrestres.
“Há muitos mitos sobre como isso poderia ter acontecido”, afirmou Carl Lipo. “Mas quando analisamos a física envolvida e testamos a hipótese no campo, vimos que o transporte vertical é perfeitamente possível e faz sentido histórico e arqueológico.”
Estradas construídas para o movimento
O estudo também analisou os caminhos tradicionais usados pelos Rapa Nui para transportar os moai. Essas vias medem em torno de 4,5 metros de largura e possuem seções côncavas. Segundo os pesquisadores, essa característica não seria um acaso, mas uma engenharia proposital para estabilizar as estátuas durante o deslocamento.
Com o balanço constante, a base da estátua se encaixa no formato do caminho, reduzindo o risco de tombar. Há evidências de que os próprios moai, ao serem transportados, acabavam moldando ainda mais o terreno, criando sulcos e pequenas elevações que guiavam outras estátuas pelo mesmo percurso. “Cada vez que moviam uma estátua, criavam um caminho”, explicou Lipo. “Esses traçados se sobrepõem, formando rotas bem definidas pela ilha.”
O estudo aponta que esse tipo de engenharia transformava um terreno irregular em um corredor de deslocamento controlado. O resultado era um transporte mais previsível e eficiente, mesmo sem o uso de ferramentas complexas.

© Carl Lipo
Conexão com as tradições orais
Além da explicação física e arqueológica, a nova teoria está em sintonia com as histórias e canções tradicionais dos Rapa Nui. Muitas dessas narrativas descrevem as estátuas “caminhando” da pedreira até as plataformas cerimoniais, conhecidas como ahu. Para os antropólogos, isso pode ser uma referência literal ao método usado pelos construtores da época.
Essa combinação de engenharia prática e cultura oral sugere que os Rapa Nui dominaram técnicas sofisticadas de movimentação com recursos simples. “Isso mostra que eles eram extremamente engenhosos”, disse Lipo. “Fizeram tudo com o que tinham à disposição e de forma eficiente.”
Os resultados do experimento também ajudam a entender por que tantas estátuas foram encontradas ao longo dos caminhos e não apenas nos locais cerimoniais. Algumas podem ter caído ou sido abandonadas durante o transporte, permanecendo ali por séculos.
Uma solução apoiada pela ciência
Com base no formato das bases, no desenho das estradas, na modelagem 3D e no experimento de campo, os pesquisadores afirmam que os moai eram realmente transportados na posição vertical, movidos por grupos coordenados de trabalhadores usando apenas cordas e conhecimento técnico apurado. A hipótese do “moai caminhante” oferece uma explicação lógica, prática e culturalmente coerente para um dos maiores mistérios arqueológicos da humanidade.