Pesquisadores da Universidade de Washington, nos Estados Unidos, estão desenvolvendo um medicamento inovador, o SLU-PP-332, que visa replicar alguns dos benefícios para a saúde da atividade física em forma de pílula. Essa abordagem inovadora, apresentada na reunião de primavera de 2024 da Sociedade Americana de Química, tem como alvo uma via metabólica tipicamente ativada pelo exercício, oferecendo potencialmente novas vias terapêuticas para indivíduos incapazes de participar de atividades físicas tradicionais.
Bahaa Elgendy, químico da Universidade de Washington e principal investigador do estudo, destacou o significativo progresso feito nesta área. “Nós conseguimos onde outros falharam”, declarou Elgendy, abordando os desafios de mirar o que uma vez foi considerada uma via metabólica ‘indrogável’. A pesquisa da equipe indica que o SLU-PP-332 poderia desempenhar um papel fundamental no tratamento de condições graves, como doenças neurodegenerativas e insuficiência cardíaca, ao imitar os efeitos do exercício.
Sabe-se que a atividade física ativa diversas vias metabólicas que contribuem para a melhoria da saúde geral, incluindo vias que acionam os receptores relacionados ao estrogênio (ERRs). Esses receptores, que são fundamentais para a regulação do metabolismo, imunidade e crescimento celular, têm sido notoriamente difíceis de serem alvo de farmacêuticos. O exercício permanece como um dos poucos métodos eficazes para ativar essas vias.
Em colaboração com a Universidade da Flórida, os pesquisadores da Universidade de Washington vêm desenvolvendo um medicamento que visa os ERRs há vários anos. Esse medicamento mira de forma única três tipos diferentes de ERRs, uma façanha anteriormente não alcançada. O sucesso dessa pesquisa levou à criação da Pelago Pharmaceuticals, uma startup que visa avançar as aplicações clínicas dessa descoberta.
Experimentos anteriores com o SLU-PP-332 mostraram resultados promissores em camundongos, indicando um aumento nas fibras musculares resistentes à fadiga e melhorias significativas na resistência. Camundongos tratados com o medicamento conseguiram correr 70% mais tempo e 45% mais longe do que seus pares não tratados. Esses achados sugerem que o SLU-PP-332 pode efetivamente melhorar o equilíbrio energético das células musculares esqueléticas.
Pesquisas adicionais revelaram que camundongos que receberam o SLU-PP-332 duas vezes ao dia durante um mês acumularam dez vezes menos gordura do que aqueles não tratados com o medicamento, apesar de manterem a mesma dieta e rotina de exercícios. Thomas Burris, farmacêutico da Universidade da Flórida, explicou: “Este composto está basicamente instruindo o músculo esquelético a fazer as mesmas mudanças observadas durante o treinamento de resistência.” Os camundongos tratados exibiram uma mudança no metabolismo para a utilização de ácidos graxos, um processo semelhante às mudanças metabólicas observadas no jejum ou no exercício físico.
Embora o SLU-PP-332 não seja um substituto completo para a atividade física, sua capacidade de acionar vias moleculares relacionadas ao exercício oferece benefícios potenciais para o coração, cérebro e rins. O desenvolvimento de novos compostos semelhantes ao SLU-PP-332, capazes de atravessar a barreira hematoencefálica, levanta a possibilidade de entregar agentes terapêuticos diretamente ao cérebro para apoiar a saúde celular.
Elgendy enfatizou o impacto potencial dessa pesquisa para indivíduos incapazes de praticar exercícios físicos devido a várias limitações. “Muitas pessoas não podem se exercitar, e uma pílula poderia ser extremamente benéfica para imitar ou potencializar os efeitos do exercício para pessoas que estão envelhecendo, para pessoas com certas doenças, ou que estão enfrentando alguma perda muscular devido ao uso de outros medicamentos”, ele observou durante uma apresentação na reunião da Sociedade Americana de Química.
Fonte: Science Alert
