Cientistas prevêem que 2024 será nosso 1° vislumbre da Terra a 1,5°C

por Lucas
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O ano de 2023 marcou um marco significativo na história do clima da Terra, pois foi registrado como o ano mais quente já observado, superando o recorde anterior estabelecido em 2016. Esse aumento na temperatura trouxe o clima global para perto de 1,5°C mais quente do que a média pré-industrial, um limiar que os cientistas há muito tempo alertam para não ser excedido para a vida sustentável no planeta. James Hansen, ex-climatologista da NASA, prevê que 2024 pode ser o ano em que a temperatura média da Terra consistentemente excederá 1,5°C.

O Acordo de Paris de 2015, que visava limitar o aquecimento a longo prazo a 1,5°C, agora enfrenta um teste crucial. Embora esse alvo ainda não seja considerado destruído, cientistas expressam preocupações sobre vários pontos críticos do clima que poderiam acelerar o aquecimento global se a temperatura da Terra permanecer consistentemente acima desse limiar. O aumento atual na temperatura global também é influenciado pelo fenômeno El Niño, que se espera que recue, levando potencialmente a uma diminuição temporária nas temperaturas médias.

Impactos

Em um cenário onde a Terra atinge um aumento consistente de 1,5°C, pesquisas sugerem impactos significativos tanto na natureza quanto na vida humana. Um dos ecossistemas mais afetados seriam os recifes de corais tropicais. Esses recifes, lar de uma vasta gama de espécies, são formados por animais semelhantes a pólipos e algas coloridas envolvidas em carbonato de cálcio. No entanto, eles são altamente sensíveis a mudanças de temperatura.

Biólogos de corais Adele Dixon e Maria Beger da Universidade de Leeds, juntamente com os físicos Peter Kalmus da NASA e Scott F. Heron da Universidade James Cook, explicam que os corais se adaptaram a uma faixa de temperatura específica. Quando as temperaturas do oceano sobem além da sua tolerância por períodos prolongados, os corais passam por um processo chamado branqueamento. Isso leva à perda das algas coloridas que vivem dentro de seu tecido e fornecem nutrição através da fotossíntese, resultando eventualmente na morte do coral.

As mudanças climáticas aumentaram a frequência de ondas de calor marinho, representando uma séria ameaça aos recifes de corais. De acordo com a pesquisa de Dixon, em um mundo que está 1,5°C mais quente, 99% dos recifes de corais enfrentarão calor intolerável mais frequentemente do que podem se recuperar, impactando a biodiversidade e a subsistência de cerca de um bilhão de pessoas que dependem desses ecossistemas.

Alex Pigot, cientista de biodiversidade da UCL, analisa o impacto mais amplo desse aquecimento na biodiversidade. Seus achados sugerem que limitar o aquecimento global a 1,5°C ainda deixaria 15% das espécies em risco de perder uma parte significativa de sua área geográfica. No entanto, esse risco dobra para 30% se o aquecimento global atingir 2,5°C.

Além dos impactos ecológicos, um aumento de 1,5°C na temperatura global representa sérios riscos à saúde e sobrevivência humana, particularmente através de ondas de calor extremas. Essas ondas de calor podem levar a condições onde a capacidade do corpo humano de se resfriar através da transpiração se torna ineficaz. Esse estado é referido como temperaturas de ‘wetbulb’ de 35°C, um limiar no qual o ar se torna muito quente e úmido para que a transpiração seja um mecanismo de resfriamento eficaz. Os cientistas climáticos Tom Matthews da Universidade de Loughborough e Colin Raymond do Instituto de Tecnologia da Califórnia indicam que tais temperaturas extremas de ‘wetbulb’ podem se tornar mais comuns se o aquecimento global exceder o limite de 2°C. Regiões como o Golfo Pérsico, Sul da Ásia e a Planície do Norte da China são identificadas como particularmente em risco de experimentar essas condições letais de calor e umidade.

Matthews e Raymond também destacam que diferentes regiões do mundo estão aquecendo em taxas variadas. Mesmo em um cenário onde a temperatura média global aumenta em 1,5°C, algumas áreas locais podem experimentar um aumento maior. Sua pesquisa, baseada em registros individuais de estações meteorológicas, mostra que muitos locais estão rapidamente se aproximando do limiar letal de calor e umidade. Desde 1979, a frequência de temperaturas punitivas de ‘wetbulb’ acima de 31°C mais do que dobrou globalmente. Em alguns dos lugares mais quentes e úmidos, como a costa dos Emirados Árabes Unidos, as temperaturas já excederam 35°C.

As consequências de ultrapassar o aumento de 1,5°C vão além das ondas de calor. Elas incluem uma maior probabilidade de tempestades catastróficas, extinções de espécies e colapso das camadas de gelo. Para mitigar esses riscos, pesquisadores frisam a necessidade de reduzir as emissões de gases de efeito estufa, que vêm predominantemente do carvão, petróleo e gás, representando 80% do uso global de energia, segundo o Science Alert.

Chris Smith da Universidade de Leeds e Robin Lamboll do Imperial College London fornecem um lembrete marcante da urgência necessária para abordar as mudanças climáticas. Suas últimas estimativas sugerem que, se a humanidade deseja ter uma chance de 50-50 de limitar o aquecimento global a 1,5°C, apenas 250 gigatoneladas (bilhões de toneladas métricas) de CO₂ podem ser emitidas daqui para frente. Esse cenário exige que o mundo alcance emissões líquidas zero em aproximadamente seis anos, sublinhando a necessidade imediata de ação drástica na redução da dependência de combustíveis fósseis e na transição para fontes de energia sustentáveis.

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