Golfinhos estão assediando deliberadamente filhotes de peixe-boi, mas ninguém sabe por quê

por Lucas
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Ao longo de um período de 21 anos, pesquisadores observaram e documentaram interações entre golfinhos-nariz-de-garrafa (Tursiops truncates) e filhotes de peixes-boi-antilhano (Trichechus manatus manatus) nas águas de Belize, localizadas no Mar do Caribe. Essas interações variaram em natureza, com algumas exibindo comportamento agressivo e hostil. Este estudo abrangeu tanto filhotes de peixe-boi órfãos quanto aqueles acompanhados por suas mães.

Golfinhos-nariz-de-garrafa e peixes-boi-antilhanos coexistem nos mesmos habitats nessas águas, compartilhando recursos como ervas marinhas para caça e forrageamento. Essa coabitação inevitavelmente aumenta a probabilidade de encontros entre as duas espécies. As motivações por trás dos comportamentos dos golfinhos, seja esses encontros coincidentes ou direcionados, permanecem incertas. O Dr. Eric A. Ramos e seus colegas, em seu artigo, reconhecem a complexidade e a falta de clareza na compreensão dessas dinâmicas, afirmando: “A dinâmica dessas interações permanece mal compreendida.”

A natureza das interações variou de aparentemente benignas a abertamente agressivas. Por exemplo, em 1999, um grupo de cinco golfinhos adultos foi observado cercando um filhote de peixe-boi. Essa interação particular parecia ser afiliativa, pois os golfinhos exibiam comportamentos como esfregar-se contra o filhote, semelhante à forma como interagem com seus próprios filhotes.

Em contraste, outros incidentes retrataram um quadro mais perturbador. Em 2015, imagens capturaram um golfinho adulto aparentemente assediando um bebê peixe-boi. Um incidente mais alarmante ocorreu em 2018, onde quatro golfinhos foram vistos interagindo com um grupo de peixes-boi, aparentemente assediando uma mãe e seu filhote. Durante esse encontro, um golfinho adulto focou no filhote, exibindo comportamento agressivo como investidas e mordidas.

O impacto dessas interações em filhotes de peixe-boi foi ainda mais destacado em 2009, quando um filhote de peixe-boi fêmea solitário e doente foi resgatado. O exame revelou lacerações profundas na pele e marcas consistentes com arranhões de dentes de golfinho. Embora o filhote tenha eventualmente se recuperado e sido devolvido à natureza em 2012, os sinais de ataques de golfinhos eram evidentes. Da mesma forma, outros filhotes recuperados durante este período exibiram indicações claras de ataques de golfinhos, alguns dos quais foram fatais.

Permanece incerto se as interações com golfinhos contribuíram diretamente para a morte de algum filhote de peixe-boi. Os pesquisadores apontam a complexidade dessas situações, observando que interações com golfinhos podem inadvertidamente ou intencionalmente causar a separação de um filhote de sua mãe. Tais separações podem levar os filhotes a se perderem ou serem abandonados, especialmente se já estiverem fisicamente debilitados ou com complicações de saúde subjacentes.

A necessidade de mais investigações sobre essas interações interespecíficas é enfatizada pelos pesquisadores. Eles sugerem que futuros peixes-boi encalhados devem passar por exames sistemáticos e necropsias completas para determinar as causas da morte. A utilização de drones aéreos foi proposta como um método eficaz para observar e documentar interações entre golfinhos e peixes-boi, oferecendo visões detalhadas em escalas espaciais e temporais finas.

Embora as razões exatas e implicações dessas interações permaneçam amplamente desconhecidas, a pesquisa lança luz sobre um aspecto anteriormente não relatado do comportamento interespecífico. O estudo destaca a importância de entender essas dinâmicas, especialmente considerando o status ameaçado da população de peixes-boi. O comportamento dos golfinhos, conhecido por ser complexo e às vezes agressivo, é de particular interesse para os conservacionistas, pois pode impactar a população de peixes-boi já vulnerável.

Os resultados completos e detalhes deste estudo são publicados na revista PLOS ONE.

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