Misteriosas estruturas poligonais detectadas nas profundezas de Marte

por Lucas
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Uma descoberta significativa foi feita sob o equador de Marte: um grande padrão de favo de mel, semelhante às formações encontradas perto dos pólos da Terra. Essas fendas, cada uma com aproximadamente 70 metros de extensão, são cercadas por lama e gelo, cada uma com cerca de 30 metros de largura. Cientistas estimam que esse material tenha entre 2 bilhões e 3,5 bilhões de anos.

Esses padrões foram identificados a partir de dados enviados pelo rover Zhurong da China, que agora não está mais se comunicando. O rover percorreu uma região conhecida como Planície Utopia, localizada ao norte do equador de Marte. Em sua jornada de pouco mais de um quilômetro em direção à região sul de Marte, o radar do rover detectou um padrão contínuo de 15 polígonos enterrados, sugerindo a possibilidade de mais padrões não descobertos.

Misteriosas estruturas poligonais detectadas nas profundezas de Marte

Comparação com a geologia da Terra

Na Terra, padrões semelhantes são observados em regiões como a Groenlândia, a Islândia e a Antártida. Essas formações ocorrem devido a mudanças drásticas de temperatura que levam à contração e fraturamento do solo. Gelo e lama preenchem essas rachaduras, impedindo que elas cicatrizem e causando a divisão ainda maior da superfície.

Um processo comparável em Marte, ocorrendo entre 2 bilhões e 3,5 bilhões de anos atrás, pode ter resultado na formação desses abismos marcianos, que são consideravelmente maiores do que qualquer um encontrado na Terra. Esta descoberta fornece novas evidências que sugerem que Marte já teve água e um clima potencialmente habitável para a vida.

Além disso, a presença desses padrões em regiões tropicais de Marte implica que essas áreas já foram frias o suficiente para causar fraturas semelhantes às vistas perto dos pólos gelados da Terra. Isso poderia apoiar a teoria de que Marte tinha uma inclinação axial significativamente diferente no passado, possivelmente até quarenta graus ou mais, por volta de 5 milhões de anos atrás. Essa variação de inclinação complica a compreensão tradicional das regiões polares como frias e áreas de baixa latitude como quentes.

Implicações para a história climática de Marte

William Rapin, um cientista do Institut de Recherche en Astrophysique et Planétologie de Paris, que não participou do estudo, reconhece a importância desta descoberta para a compreensão do passado de Marte. Rapin, parte de uma equipe que descobriu rachaduras de lama semelhantes perto da cratera Gale explorada pelo rover Curiosity da NASA, enfatiza as dificuldades de acessar períodos antigos semelhantes na Terra devido à reciclagem de sua superfície. Marte, em contraste, preserva bem suas camadas, oferecendo uma oportunidade única de investigar um período potencialmente favorável à origem da vida.

A inclinação axial de Marte, ou obliquidade, mudou ao longo dos últimos 3,5 bilhões de anos, influenciando seu clima. O equador do planeta seria o mais quente sem inclinação devido à luz solar direta, mas modelos de computador sugerem que Marte experimentou uma inclinação excessiva há alguns milhões de anos, alterando a distribuição da luz solar ao longo do ano.

Isso teria resultado em períodos prolongados de noite chegando ao equador. A inclinação de Marte é conhecida por variar mais do que a da Terra, tendo se deslocado por mais de dez graus em 100.000 anos. Essa variação é pensada para ter contribuído para mudanças climáticas dramáticas, transformando Marte de um mundo potencialmente habitável no árido paisagem que vemos hoje.

A detecção do padrão de polígonos 35 metros abaixo da superfície indica que essas formações se desenvolveram ao longo do tempo, mas cessaram abruptamente. Isso sugere que o solo marciano no passado recente não experimentou flutuações de temperatura semelhantes, levando à acumulação de camadas sobre as fendas. A cessação da formação de polígonos pode marcar um período de mudança climática significativa em Marte, possivelmente passando de um clima mais frio para um clima mais temperado.

O rover Curiosity da NASA, que recentemente comemorou 4.000 dias em Marte, deverá explorar um terreno com grandes fraturas visíveis da órbita no próximo ano. Rapin espera comparar essas com os novos polígonos encontrados na Planície Utopia, hipotetizando que elas podem indicar uma seca extrema antiga.

A pesquisa sobre esta descoberta foi publicada na revista Nature Astronomy.

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