Será que a Corrente do Golfo é tão poderosa como se pensava?

Variações na Corrente do Golfo não afetam a circulação do Atlântico Norte como se pensava, mostra novo estudo.

por Junior
0 comentário 11 visualizações

A circulação do Oceano Atlântico Norte, especialmente a Corrente do Golfo, sempre foi um tema de grande interesse. A Corrente do Golfo flui da Flórida para o norte, ao longo da costa da América do Norte. Quando gira para o leste, a água cruza o Atlântico como a Corrente do Atlântico Norte e segue para o Mar da Noruega, onde se torna a Corrente da Noruega. Tradicionalmente, acreditava-se que este circuito era contínuo: a água flui para o norte, afunda nos mares nórdicos e retorna ao sul como uma corrente profunda. Este fenômeno é conhecido como a circulação de retorno meridional do Atlântico (AMOC, na sigla em inglês).

No entanto, um novo estudo questiona a coerência dessa circulação. Pesquisadores demonstraram que, embora a Corrente do Golfo exista, as variações que ocorrem ao largo da costa da Flórida não necessariamente chegam até a Noruega. Os cientistas utilizaram dados de diferentes regiões do Atlântico Norte, coletados ao longo de décadas, para chegar a essa conclusão.

A mudança climática também desempenha um papel crucial nesse contexto. Acreditava-se que o enfraquecimento da Corrente do Golfo ao largo da Flórida era um sinal de que a mudança climática estava afetando toda a circulação no Atlântico Norte. No entanto, novos dados sugerem que essa conexão não é tão simples. Helene Asbjørnsen, oceanógrafa do Instituto Geofísico da Universidade de Bergen e do Centro Bjerknes, enfatiza que não se pode medir a corrente em um único ponto e esperar que esses dados representem a circulação de todo o Atlântico Norte.

O estudo revela que as variações na Corrente do Golfo e a água que chega à Noruega são mínimas em escalas de tempo de anos ou décadas. Embora a corrente ao largo da América do Norte tenha enfraquecido após 2005, a entrada de água no Mar da Noruega aumentou. Isso sugere que o sistema é mais complexo do que se pensava originalmente.

O fluxo superficial no Atlântico Norte é composto por três grandes “giros”. Na corrente subtropical, a água segue a Corrente do Golfo para o norte em uma faixa estreita e concentrada. Mais ao norte, encontra-se a corrente subpolar. Finalmente, a corrente norueguesa segue a costa da Noruega em direção ao mar de Barents e Svalbard. A água flui para o norte, mas também circula dentro desses giros. A quantidade de água que continua para o próximo giro determina se as mudanças no sul se propagam para a Europa e Noruega.

Os pesquisadores compararam medições de correntes de diferentes posições nos três giros ao longo das últimas décadas. Descobriram que as variações na intensidade da corrente em cada giro raramente se propagam para o próximo. As reduções observadas na Corrente do Golfo ao largo da América do Norte não se refletem no centro do Atlântico ou no Mar da Noruega. Helene Asbjørnsen aponta que o ambiente é um fator crucial nesse fenômeno.

A posição e a força do sistema de alta pressão dos Açores e dos sistemas de baixa pressão mais ao norte variam. Essas mudanças na pressão direcionam o vento, o que pode explicar como um giro pode se fortalecer sem transportar mais água para o próximo. A falta de continuidade não significa que as correntes no Atlântico Norte estejam desconectadas. Asbjørnsen descobriu em um estudo anterior que dois terços da água ao largo da costa norueguesa provinham da verdadeira Corrente do Golfo ao largo da Flórida.

Modelos climáticos são usados para simular as correntes oceânicas durante períodos mais longos do que os registrados por observações. Essas simulações sugerem que o Atlântico Norte se comporta como um sistema mais coerente ao longo de muitas décadas. No entanto, os novos resultados referem-se a variações nas correntes oceânicas em escalas de tempo cobertas pelas medições disponíveis. Asbjørnsen destaca que é difícil observar sinais de mudanças a longo prazo com séries de dados curtas e dominadas por grandes variações regionais de ano para ano e de uma década para outra.

Os modelos climáticos também concordam que a mudança climática enfraquecerá o afundamento do norte, que, assim como os ventos, contribui para a circulação no oceano Atlântico. Isso adiciona outra camada de complexidade à nossa compreensão da circulação do Atlântico Norte e seu futuro em um mundo com mudanças climáticas.

Deixar comentário

* Ao utilizar este formulário você concorda com o armazenamento e tratamento de seus dados por este site.