Encontraram uma estrada escondida no gelo que ligava a América há 24 mil anos

por Lucas
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Uma rodovia congelada pode ter desempenhado um papel crucial na migração de antigos viajantes da Sibéria para o Novo Mundo, antecedendo significativamente a chegada dos povos das Primeiras Nações da América, tradicionalmente pensado ter ocorrido há cerca de 13.000 anos atrás. Essa teoria surge de pesquisas conduzidas pelo US Geological Survey, Woods Hole Oceanographic Institution e Oregon State University, examinando sedimentos e vida marinha fossilizada. As descobertas sugerem que o gelo marinho poderia ter facilitado a migração precoce, quando a passagem de barco era muito perigosa.

A geóloga do US Geological Survey, Summer Praetorius, em uma apresentação na Reunião Anual da União Geofísica Americana (AGU23) em São Francisco, destacou a importância potencial de extensas planícies de gelo de inverno em auxiliar a viagem durante períodos em que as condições do mar eram desfavoráveis para a navegação. Essa nova perspectiva desafia a crença de longa data na comunidade arqueológica sobre o povo Clovis como os primeiros colonizadores do continente norte-americano. A cultura Clovis, identificada através de restos esqueléticos e pontas de projéteis distintas encontradas com megafauna extinta, tem sido considerada a civilização mais antiga da América do Norte, com famílias acreditadas terem migrado através de uma ponte terrestre ligando a Sibéria ao Alasca, exposta pelo recuo do gelo.

A hipótese do Clovis-primeiro tem sido apoiada por várias formas de evidência, incluindo artefatos tangíveis e dados climáticos, que pareciam se alinhar com a linha do tempo de movimento entre essas massas de terra. No entanto, descobertas recentes têm cada vez mais lançado dúvidas sobre essa hipótese, sugerindo a presença de humanos nas Américas tão longe quanto o Último Máximo Glacial, mais de 25.000 anos atrás.

Uma das questões críticas neste debate é o meio de viagem usado por esses povos antigos. Cerca de 36.000 anos atrás, os níveis do mar eram baixos o suficiente para potencialmente expor uma ponte terrestre no topo do mundo. No entanto, a paisagem coberta por geleiras teria sido desafiadora para atravessar. Com o recuo das geleiras, uma estreita faixa de ecossistemas costeiros poderia ter oferecido recursos e uma rota para viagens de barco. A evidência de um assentamento de 14.000 anos atrás na costa oeste do Canadá apoia a ideia de que pessoas pré-Clovis poderiam ter migrado ao longo da costa.

A ‘hipótese da rodovia de algas’ sugere que a tecnologia marinha era suficientemente avançada para transportar famílias através do ambiente marinho hostil por milhares de quilômetros. No entanto, essa hipótese depende do período em que a viagem ocorreu. Um estudo de 2020 destaca que períodos quentes com derretimento acelerado poderiam ter perturbado as correntes oceânicas, tornando-as desfavoráveis para remadores migratórios devido ao influxo de água doce no oceano.

A análise de Praetorius e sua equipe de modelos climáticos indica que, há cerca de 20.000 anos, ventos fortes e níveis mais baixos do mar poderiam ter dobrado a força das correntes oceânicas em comparação com hoje, apresentando desafios adicionais para a viagem marítima. Apesar dessas dificuldades, os registros também indicam a presença de extenso gelo marinho de inverno até cerca de 15.000 anos atrás, fornecendo uma rota potencial para migrantes caminharem ou deslizarem.

Os pesquisadores identificaram dois períodos, 24,5 – 22 mil anos atrás e 16,4 – 14,8 mil anos atrás, como os mais prováveis para a migração precoce ao longo da costa do Alasca, possivelmente auxiliada pela “Rodovia de Gelo Marinho”. Essa análise não prova conclusivamente a viagem marítima durante períodos em que as correntes eram favoráveis, nem confirma que tais viagens realmente ocorreram.

A possibilidade de que humanos possam ter alcançado áreas tão ao sul quanto o Novo México há mais de 20.000 anos levanta a perspectiva de um caminho seguro e aberto que seus ancestrais possam ter usado para transpor a vasta divisão geográfica. Esta pesquisa, apresentada na Reunião Anual da União Geofísica Americana em São Francisco em 16 de dezembro, adiciona uma nova dimensão ao nosso entendimento da migração humana precoce e desafia suposições de longa data sobre o povoamento das Américas.

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