Jogos violentos não aumentam a agressividade e podem, na verdade, ser benéficos

por Lucas
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 Uma crença generalizada entre certos grupos é que os videogames contribuem para o aumento da agressividade nos jogadores. Essa visão tem sido particularmente proeminente em discussões públicas, especialmente no contexto de atos aleatórios de violência. Por exemplo, em 2019, vários comentaristas nos Estados Unidos atribuíram uma série de tiroteios em escolas à influência dos videogames.

No entanto, as evidências empíricas não apoiam consistentemente essa noção. Pesquisas recentes começaram a desafiar a ideia de que os videogames levam inerentemente a um comportamento mais violento. Por exemplo, um novo estudo mostrou que jogar videogames violentos pode na verdade reduzir os níveis de hormônio do estresse em alguns jogadores, indicando um possível efeito de alívio do estresse, em vez de induzir agressão.

Esse assunto tem sido objeto de debate por muitos anos. Na esfera pública, quando ocorrem atos de violência, os videogames são por vezes culpados, especialmente se o perpetrador é um jovem. Curiosamente, pesquisas indicam que explicações de videogame são mais comumente invocadas quando o perpetrador é um homem branco, ao contrário de uma pessoa de cor. Isso sugere um viés cultural, onde minorias raciais são estereotipicamente associadas à violência, enquanto indivíduos brancos têm mais probabilidade de serem percebidos como influenciados por fatores externos, como videogames.

Diante desses debates e descobertas inconsistentes, pesquisadores foram motivados a aprofundar a relação entre videogames e violência. Gary L. Wagener, um pesquisador de doutorado na Universidade de Luxemburgo, expressou interesse pessoal nesta área, sendo ele mesmo um jogador. A curiosidade de Wagener foi despertada pelas inconsistências em estudos existentes sobre videogames e violência, com algumas pesquisas sugerindo uma ligação com o aumento da agressão, enquanto outros estudos não encontraram tal conexão. Ele observou que as representações da mídia frequentemente simplificavam demais a natureza complexa dessa questão.

Para explorar isso mais a fundo, Wagener conduziu um estudo envolvendo 54 participantes masculinos. Esses indivíduos foram recrutados através de vários canais, incluindo listas de e-mails universitários, mídias sociais e cartazes publicitários. Eles foram aleatoriamente designados para jogar um segmento violento ou não violento do videogame “Uncharted 4: A Thief’s End” por 25 minutos.

O estudo concentrou-se em medir efeitos fisiológicos e psicológicos. Antes e depois de jogar o jogo, os níveis de cortisol (um hormônio do estresse) e testosterona dos participantes foram medidos usando amostras de saliva. Além disso, eles preencheram questionários avaliando traços de personalidade, particularmente os traços do “Tetrado/Triado Sombrio”, que incluem narcisismo, psicopatia, sadismo e maquiavelismo. Além disso, um Teste de Associação Implícita foi usado para medir tendências agressivas.

Contrariando as expectativas comuns, o estudo não encontrou mudanças significativas nos níveis de testosterona em nenhum dos grupos. Mais surpreendentemente, aqueles que jogaram a parte violenta do jogo mostraram uma diminuição nos níveis de cortisol posteriormente, sugerindo um possível efeito de relaxamento em vez de um aumento no estresse. Além disso, o Teste de Associação Implícita indicou nenhuma diferença significativa em tendências agressivas entre os grupos.

Wagener concluiu que jogar um videogame violento não afetou a agressão, mesmo considerando os efeitos fisiológicos e de personalidade. Ele enfatizou a necessidade de entender que não há uma indicação clara de que videogames violentos sejam prejudiciais. Em vez disso, eles podem ter efeitos positivos e relaxantes nos jogadores.

Apesar dessas descobertas, o estudo tem suas limitações. Ele não pode ser generalizado para outros videogames e se concentrou apenas em participantes do sexo masculino. Isso foi feito para minimizar a variabilidade e controlar fatores como ciclos menstruais e contraceptivos orais em mulheres, que podem afetar os níveis hormonais. Pesquisas futuras poderiam explorar o impacto de jogos violentos em jogadoras.

Para obter uma compreensão mais abrangente, estudos futuros devem envolver uma gama maior de conteúdo e uma amostra mais diversificada, incluindo participantes de ambos os sexos. Wagener vê essa pesquisa como um passo inicial em uma investigação mais ampla.

O estudo foi publicado na revista Physiology & Behavior.

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