Os humanos ainda têm os genes para uma pelagem completa, descobrem os cientistas

por Lucas
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O pelo é uma característica distintiva dos mamíferos, mas várias espécies, incluindo golfinhos, ratos-toupeira, elefantes e humanos, apresentam uma notável falta dele. Essa divergência da característica típica dos mamíferos de corpos cobertos de pelo não é apenas um acontecimento aleatório. Um estudo da geneticista da Universidade de Pittsburgh, Amanda Kowalczyk, e sua equipe lança luz sobre esse fenômeno. Sua extensa pesquisa abrangeu quase 20.000 genes codificadores e 350.000 reguladores, englobando 62 espécies diferentes de mamíferos. Suas descobertas oferecem insights sobre os mecanismos genéticos por trás dessa variação de traços.

O estudo revela um aspecto fascinante da evolução convergente, onde a ausência de pelos evoluiu independentemente pelo menos nove vezes em diferentes linhagens de mamíferos. Evolução convergente refere-se ao ressurgimento de um traço em linhagens não relacionadas, destacando uma adaptação paralela a pressões ambientais ou evolutivas semelhantes. As razões para a ausência de pelos variam entre as espécies. Elefantes, por exemplo, têm menos pelos como meio de dissipar calor mais efetivamente. Mamíferos marinhos se beneficiam de um corpo mais liso, reduzindo a resistência na água. Já os humanos podem ter evoluído a ausência de pelos por várias razões, incluindo melhor termorregulação e menor carga de parasitas.

Ao explorar a base genética para essa ausência de pelos, Kowalczyk e colegas descobriram que as mudanças genéticas em espécies sem pelos ocorreram predominantemente devido a mutações em conjuntos semelhantes de genes. Esses genes estão frequentemente relacionados à estrutura do pelo, como aqueles que codificam proteínas de queratina e sequências que regulam o desenvolvimento do pelo. Clark Nathan, geneticista da Universidade de Pittsburgh, explica que, à medida que a pressão evolutiva para a perda de pelos aumenta, os genes relacionados ao pelo se tornam menos cruciais. Isso leva a uma aceleração na taxa de mudanças genéticas permissíveis pela seleção natural. Algumas dessas alterações genéticas podem contribuir diretamente para a perda de pelos, enquanto outras podem ser consequências incidentais após a cessação do crescimento dos pelos.

Apesar da tendência à ausência de pelos, muitas espécies de mamíferos, incluindo humanos, mantêm o potencial genético para pelos. O estudo destaca que os genes responsáveis pelo crescimento de pelos ainda estão presentes, mas são regulados de maneira a mantê-los “desligados”, um estado alcançado através do acúmulo de mutações ao longo do tempo.

A pesquisa também identificou numerosos novos genes reguladores relacionados aos pelos e alguns genes potenciais codificadores de pelos. Essas descobertas são significativas, particularmente para indivíduos que buscam regenerar cabelos perdidos devido a distúrbios ou quimioterapia. Kowalczyk observa que muitos desses genes não são bem compreendidos, mas podem desempenhar papéis cruciais no crescimento e manutenção dos cabelos.

Essa metodologia e abordagem para entender os mecanismos genéticos na ausência de pelos podem ser estendidos a outros traços moldados pela evolução convergente. A equipe está atualmente empregando seu método computacional para investigar outras condições de saúde, visando descobrir mecanismos genéticos globais que subjazem a várias características. Esta pesquisa, publicada na revista eLife, oferece uma nova perspectiva sobre as bases genéticas de traços evolutivos e suas implicações para a saúde e biologia humanas.

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