O cromossomo Y está desaparecendo. O que acontecerá com os homens?

por Lucas
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O cromossomo Y, comumente associado ao desenvolvimento masculino, está passando por um processo de degeneração. Ele possui o gene SRY, crucial para determinar se um embrião se desenvolverá como macho (XY) ou fêmea (XX). Curiosamente, o cromossomo Y contém um número limitado de outros genes e não é essencial para a vida, como evidenciado por mulheres que não possuem um cromossomo Y e funcionam normalmente.

A taxa de degeneração do cromossomo Y é notável, levando a uma situação em que as fêmeas têm dois cromossomos X intactos, enquanto os machos têm um X e um Y degenerado. Se essa taxa continuar, estima-se que o cromossomo Y possa desaparecer em aproximadamente 4,6 milhões de anos. Esse período pode parecer extenso, mas é relativamente curto considerando a história da Terra de 3,5 bilhões de anos.

Historicamente, o cromossomo Y nem sempre esteve nesse estado. Cerca de 166 milhões de anos atrás, com o surgimento dos primeiros mamíferos, o proto-cromossomo Y era semelhante em tamanho e conteúdo genético ao cromossomo X. O aspecto único do cromossomo Y é sua existência como uma única cópia em cada célula, herdada de pai para filho. Essa presença singular significa que ele não pode passar por recombinação genética, o processo em que os genes se embaralham a cada geração, ajudando a eliminar mutações prejudiciais. Esta falta de recombinação leva à degradação gradual dos genes cromossômicos Y, resultando em sua eventual perda no genoma.

Pesquisas recentes, no entanto, indicaram que o cromossomo Y desenvolveu mecanismos para desacelerar essa degeneração. Um estudo dinamarquês publicado no PLoS Genetics analisou partes do cromossomo Y de 62 homens, revelando sua susceptibilidade a rearranjos estruturais em larga escala. Esses rearranjos permitem a amplificação gênica, onde múltiplas cópias do gene podem aprimorar a função do esperma saudável e contrabalançar a perda de genes.

O estudo também identificou estruturas únicas no cromossomo Y chamadas palíndromos, sequências de DNA que se leem iguais de frente para trás e de trás para frente. Essas estruturas protegem o cromossomo de uma degradação maior. Uma alta taxa de eventos de conversão gênica nessas sequências palindrômicas foi observada. A conversão gênica é semelhante a um processo de copiar e colar, reparando genes danificados usando uma cópia de backup não danificada como modelo.

Olhando para outras espécies, evidências sugerem que a amplificação de genes do cromossomo Y é um princípio comum. Esses genes amplificados são cruciais na produção de esperma e, em algumas espécies como roedores, na regulação da proporção de sexo da prole. Pesquisa em Biologia Molecular e Evolução mostra que esse aumento no número de cópias de genes em camundongos é resultado da seleção natural.

O futuro do cromossomo Y é um tópico de debate na comunidade científica, atualmente dividida em dois grupos: aqueles que acreditam que o cromossomo Y acabará por desaparecer (abandonistas) e aqueles que argumentam que ele persistirá (permanecistas). Os abandonistas, como Jenny Graves da Universidade La Trobe, argumentam que o cromossomo Y está inevitavelmente condenado, citando exemplos como ratos espinhosos japoneses e toupeiras, que perderam seus cromossomos Y. Essas perdas muitas vezes levam a problemas de fertilidade, potencialmente impulsionando a formação de novas espécies.

Por outro lado, os permanecistas apontam para os mecanismos defensivos do cromossomo Y como evidência de sua resiliência. Eles argumentam que esses mecanismos desaceleraram significativamente a degeneração do cromossomo.

Apesar do potencial desaparecimento do cromossomo Y, isso não implica necessariamente o fim dos machos nas populações humanas. Em espécies onde o cromossomo Y desapareceu, machos e fêmeas permanecem essenciais para a reprodução. Nestas espécies, o gene SRY, que determina o desenvolvimento masculino, mudou-se para um cromossomo diferente. Essa realocação implica que um novo cromossomo determinante do sexo pode começar a degenerar devido às mesmas limitações de recombinação.

Nos humanos, embora o cromossomo Y seja importante para a reprodução normal, muitos de seus genes não são essenciais ao usar técnicas de reprodução assistida. Esse avanço sugere que a engenharia genética poderia potencialmente substituir as funções dos genes do cromossomo Y, permitindo métodos alternativos de reprodução. No entanto, isso não implica que a reprodução natural cessará entre humanos férteis.

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1 comentário

Alessandro 09/01/2024 - 20:43

Meu amigo, se vc vier para o carnaval de Salvador, verá que esse cromossomo já sumiu.

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